Chega de ser macaco de auditório!

Chega de ser macaco de auditório!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Calmo, Sereno e tranquilo!


1

“Num mar sereno há também alguma agitação, mesmo depois da tempestade já se ter acalmado.”

2

“O resultado do vício é só um: magoar a si próprio.”

3

“Os que detestam o seu ócio lamentam-se por não terem nada para fazer, e têm inveja do sucesso dos outros, porque a apatia alimenta a inveja e desejam que todos se destruam, pois eles não conseguiram ter sucesso.”

4

“Por natureza, a alma é lesta e gosta de actividade. Tudo o que a possa distrair, é-lhe agradável.”

5

“Devemos aprender que o mal que sofremos não é devido aos lugares, mas sim de nós mesmos.”

6

“Aquele que tem por objectivo ser útil aos outros, aquele que através de várias actividades gere conforme as suas capacidades e possibilidades os assuntos comuns e os privados, exercita-se e prospera.”

7

“A virtude nunca se esconde e vai enviando sinais. Quem for digno dela, irá reconhecê-la apenas pelos vestígios.”

8

“Por vezes, um idoso não tem nenhum argumento além da idade, que consiga provar o muito tempo que viveu.”

9

“Tem em atenção se a tua natureza está mais inclinada para a actividade ou para o estudo ocioso e para a observação. Deves seguir pelo caminho que a força do teu carácter te orienta. As naturezas interiores que são forçadas, costumam não ter resultados positivos.”

10

“Não deves entrar onde o regresso não possa ser livre.”

11

“Devemos escolher entre os homens que entendamos serem dignos de lhes darmos parte da nossa vida e que apreciem o nosso sacrifício de tempo.”

12

“Uma amizade fiel e afável é o que a alma mais deseja.”

13

“Quando escolhemos os nossos amigos, devemos procurar os que estejam menos adulterados.”

14

“Não sigas nem atraias ninguém a não ser o sábio.”

15

“Evita essencialmente os que são tristes e que lamentam tudo, que gostam de estar sempre a queixar-se. Mesmo que seja fiel e bondoso, é o verdadeiro inimigo da tranquilidade.”

16

“Andam mais alegres aqueles que nunca tiveram fortuna, que aqueles que a perderam.”

17

“Não tens vergonha, quem quer que sejas, de ficares deslumbrado pelas fortunas?”

18

“Uma vez que não temos muita força, devemos reduzir as nossas riquezas, de forma a estarmos menos expostos às afrontas da fortuna. No campo de batalha, os corpos que se podem contorcer e esconder-se nos seus escudos, são mais hábeis, que aqueles que se mostram e querem mostrar força, expondo-se aos ferimentos. A medida mais aconselhada do dinheiro é a que não cai na pobreza, mas também não se afasta muito dela.”

19

“Devíamo-nos habituar a afastar de nós o luxo e apreciarmos as coisas pela sua utilidade, não pelo seu adorno.”

20

“Um mal contrapõe-se ao outro.”

21

“O dinheiro que se gasta com os estudos, que é o mais bem utilizado, é tanto mais racional quanto mais moderado for. É preferível que escolhas poucos autores e te entregues a esses, do que adquirir muitos livros que durante uma vida, de muitos deles apenas se lê os índices. Livros devemos tê-los o quanto seja suficiente mas nunca por ostentação.”

22

“Em todos os tipos de vida podes encontrar prazeres, divertimentos, se encarares os males como leves em vez de os odiar.”

23

“A natureza, percebendo que iríamos passar por vários sofrimentos, encontrou uma forma para os ultrapassarmos que é o hábito. Por isso os que são mais habituais acabam por se tornar familiares. Ninguém conseguiria aguentar tamanha dor, se a constância das coisas tivesse sempre o mesmo peso como no primeiro impacto.”

24

“Devemos permitir que os nossos desejos proliferem, mas não para muito longe; não os devemos silenciar, mas também não lhes podemos permitir muita liberdade.”

25

“Nunca devemos ter inveja daquele que está acima de nós, pois o que parece altura pode ser um abismo.”

26

“Os que a má sorte ou o azar levaram a uma encruzilhada, estarão mais seguros se conseguirem deixar as coisas que os conduzem à altivez. Mas na realidade, muitos estão forçosamente ligados às alturas, e só saem de daí quando caem.”

27

“Devemos oferecer à natureza uma alma melhor que aquela que nos foi confiada.”

28

“Temos de ver a vida como algo que não tem grande valor.”

29

“Muitas vezes a causa da morte é o receio de morrer.”

30

“Quem tem medo da morte, dificilmente fará algo a favor dos vivos.”

31

“Muitos homens quando embarcam não pensam na tempestade que pode aparecer. Se todos pensassem que pode acontecer a qualquer um de nós, tudo o que também acontece aos outros, estariam mais preparados, e quando o mal chegasse, teriam as defesas necessárias preparadas.”

32

“Todo o trabalho tem de ter um objectivo bem claro e definido. Não é a actividade que faz mexer os inquietos, mas sim as falsas imagens que as coisas têm. São atraídos pela aparência de algumas coisas, cujas falsidades não conseguem distinguir.”

33

“Quando não se consegue realizar um desejo, a dor da alma é menos dolorosa, se nunca se esperar que o sucesso teria de acontecer.”

34

“O importante é que a alma se recolha em si própria, abandonando todas as coisas exteriores. Deve confiar em si mesma, alegrar-se consigo, cuidar do que é seu e afastar-se o mais possível das coisas dos outros.”

35

“Devemos considerar os vícios do povo como ridículos e não como odiosos.”

36

“Devemos atenuar todas as coisas e enfrentá-las com boa disposição. É mais humano rir da vida, que lamentá-la.”

37

“É mais merecedor da condição humana aquele que se ri dela do que o que a lamenta, pois quem ri ainda deixa alguma esperança positiva, enquanto que o outro chora pateticamente o que não espera que seja corrigido.”

38

“Perturbar-se com os males dos outros é fazer-se miserável para sempre e alegrar-se com eles é um prazer desumano.”

39

“Quanto mais corajoso, mais feliz será.”

40

“Não irei chorar por ninguém que esteja alegre, nem por ninguém que chore. Aquele limpou ele próprio as minhas lágrimas, este com as suas lágrimas não é digno de alguma outra.”

41

“Existem aqueles que se cansam de qualquer coisa que se torna acessível a eles.”

42

“A solidão como a comunicação devem ser alternadas. A primeira incute-nos o desejo do convívio social e a segunda o desejo de nós próprios na nossa intimidade. E uma será a solução da outra. A solidão cura a nossa antipatia pela multidão e a comunicação cura o nosso tédio à solidão.”

43

“O trabalho contínuo faz nascer no espírito uma certa indolência e insensibilização.”

44

“Por vezes um passeio, uma viagem ou uma mudança de local dão força ou até mesmo um banquete e uma bebida em doses mais generosas. Às vezes temos mesmo que nos embriagar, não para que ela nos absorva, mas para que nos acalme, pois ela faz desaparecer as preocupações, agita até o que está mais profundo na alma e pode ser a cura das tristezas e de certas doenças.”

45

“Tal como na liberdade, também no vinho é necessário moderação. Não devemos recorrer ao vinho frequentemente, para não adquirirmos esse mau hábito. Devemos deixarmo-nos levar de vez em quando à alegria e liberdade, removendo um pouco a triste sobriedade.”

46

“Não podemos dizer coisas grandes e superiores a todas as outras, a menos que a nossa mente esteja excitada. Quando abandona o banal e habitual e se ergue ao alto por um instinto sagrado, então a alma consegue cantar algo grande com uma boca de um mortal. Quando está em si não consegue atingir algo elevado e difícil.”


DA TRANQUILIDADE DA ALMA
DE OTIO, DE TRANQUILLITATE ANIMI E DE VITA BEATA

Autor: Sêneca

Resenha:

"Investiguemos de que modo a alma deverá prosseguir sempre de modo igual e no mesmo ritmo. Ou seja, estar em paz consigo mesmo, e que essa alegria não se interrompa, mas permaneça em estado plácido, sem elevar-se, sem abater-se. A isso eu chamo tranquilidade. Investiguemos como alcançá-la."
(Trecho de Da tranquilidade da alma)

Sêneca (4 a.C.?-65 d.C.), preocupado com as mudanças bruscas nos valores morais, nas crenças e na religião, refletiu sobre esses anseios em textos que se tornaram clássicos da filosofia. Três deles, conhecidos como tratados morais, estão compilados neste volume. "Da vida retirada", "Da tranquilidade da alma" e "Da felicidade". Neles são apresentadas meditações sobre a busca da serenidade e a importância da reflexão interior. Para uma vida plena – recomenda o filósofo – é necessário o afastamento dos bens materiais e daquilo que traz infelicidade; somente assim se iniciaria o processo de aprimoramento espiritual.

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Editora: L&PM Editores - L&PM Pocket

Ref.: 789

ISBN-13: 9788525417541

Páginas: 144

1° Edição: junho de 2009

Observação:

Traduzido do latim por Lúcia Rebello e Itanajara Neves
Introdução de Lúcia Rebello

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