Chega de ser macaco de auditório!

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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O mestre da madeira!

"Procurei fazer um móvel diferente daquele que se produzia. O móvel que até então se fazia guardava vícios do passado. Eram pesados, desproporcionais tanto no assento quanto no encosto ou braços. Então criei um móvel mais leve, mais funcional e mais cômodo. Afinal, o móvel,como muitas outras coisas de uso humano, tinha de se adaptar aos tempos, tomar novos rumos", Joaquim Tenreiro (1985).


Ele foi marceneiro, escultor e pintor. Mais que isso. Numa trajetória iniciada em fins dos anos 20 e que se prolongaria por mais de seis décadas, Joaquim Tenreiro tornou-se nacional e internacionalmente conhecido como o primeiro designer de móveis do Brasil. Nascido em 1906, em Melo, numa pequena aldeia na Serra da Estrela, Joaquim de Albuquerque Tenreiro era filho e neto de marceneiro e, aos nove anos de idade, começou a trilhar os primeiros passos de artesão. Foi na década de 20, já casado, que Tenreiro fixou-se em definitivo no Rio de Janeiro, ganhando a vida como carpinteiro e marceneiro para então em 1929, matricular-se em seu primeiro curso de desenho livre e afinal, dar vazão à paixão pela arte.

O designer - O primeiro móvel desenhado por Tenreiro data de 1942: a Poltrona leve, em imbuia preta, com um belíssimo tecido em branco e preto (da não menos conceituada artista plástica Fayga Ostrower). Depois, uma fabulosa e clássica seqüência: Cadeira de embalo, a Mesa e a Cadeira estruturais, e a célebre cadeira de três pés, a Trípode (de imensa repercussão em 1947 ao ser utilizada como cenário da peça Da necessidade de ser polígamo, de Silveira Sampaio, que apresentava - escandalosamente para época - um triangulo amoroso).

A carreira como artista plástico deslanchou no início da década de 40, quando participou com óleos e desenhos da Divisão Moderna dos Salões Nacionais de Belas Artes de 1941 e 42, onde ganhou vários prêmios. Eram paisagens, a natureza-morta, o retrato e o auto-retrato. Um desenho sensível, de um colorido suave, com predomínio de verdes em todos os tons. Pintou os bairros e paisagens da sua cidade adotada: Glória, Santa Teresa, Laranjeiras e também o Morro do Querosene. Essa atividade decresceria por um tempo, mas a multiplicidade artística (através das esculturas) continua até a década de 80.

Conhecedor em profundidade da madeira, Tenreiro trabalhou o jacarandá, o pau-marfim, o roxinho, o cedro, o vinhático e, foi o primeiro a explorar a diversidade cromática das madeiras brasileiras. Da união da palhinha à madeira surgiu outras obras-primas, como a Itamaraty, de 1965 ( desenhada e produzida para o salão de banquetes do Palácio do Itamaraty, em Brasília). "A palhinha em si não é um produto universal, aplicada em todos os setores. O caso é que no Brasil ela adquiriu características próprias, tornando-se praticamente brasileira" defendia, fervorosamente, Tenreiro. Em 1947, abriu loja no Rio e, em 1953, outra em São Paulo, atingindo bastante sucesso (a fábrica de Bonsucesso, no Rio, chegou a ter mais de 100 operários) porém, uma ascensão temporária: em 1968, pára as atividades de designer e produtor para dedicar-se inteiramente às artes plásticas.

Apesar de todo virtuosismo Tenreiro morreu pobre (aliás, comum aos grandes artistas da história), em 1992. Sua cadeira Embalo, de 1947, voltou a ser produzida pela Probjeto no mesmo ano da morte, mas, saindo de linha anos depois. Hoje, encontramos peças do artista apenas em livros, alguns museus e eventuais mostras. Uma pena que os trabalhos do nosso Joaquim Tenreiro não sejam reproduzidos pelas grandes indústrias moveleiras.

Fonte: Taste

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