na lista dos livros que não dá pra deixar de ler :
O Lobo Da Estepe
(Hermann Hesse)
O Lobo da Estepe é a história de um intelectual cinqüentão vivendo em plena desvairada década de 1920 que, após abandonar a regrada vida burguesa, se entrega à dissipação da vida boêmia dos bares, dos salões de dança onde aprende o jazz, e das elegantes cortesãs.
O erudito Harry Haller vive o tempo toda a tensão entre a vida sublime de seus grandes poetas e músicos - Goethe e Mozart, mormente, com os quais inclusive tem encontros imaginários ? a vida da alta cultura, do espírito, dos Imortais, e a vida das profundezas da superficialidade, do sensual, da carne, a que é conduzido por Hermínia, mulher da noite que conhece em um bar e alter ego de um amigo de infância que muito o impressionou. Vive, portanto, atraído por dois pólos magnéticos opostos, um representado pela vida noturna, pelo álcool, pelos cigarros, pelo jazz, pelas meretrizes e pelo despertar ao meio dia; o outro pela vida ascética, diurna, tranqüila, de jardins bem cuidados da família burguesa vizinha que admira logo no primeiro capítulo como alguém que sente nostalgia por um paraíso perdido.
Mas, em verdade, sabe que viver burguesamente é viver na mesma terra mediana em que vive. O burguês vive dividido entre a atração da vida do santo e a vida do libertino, do espírito e da carne, não conseguindo superar a medianidade e entregar-se completamente a um dos dois pólos radicais. O Lobo da Estepe, conforme explicado no "Tratado do Lobo da Estepe", pertence à burguesia, não consegue superá-la, daí seu misto de apreço e desprezo pela vida burguesa. Harry entrega-se à dissipação querendo superar a mediocridade burguesa, quer uma transcendência, ainda que pelos "martírio da carne", mas não tem força bastante para esta libertação, daí a sua atração pela vida burguesa quando sente-se aprofundar demais na vida do libertino.
Porém, para além da dupla personalidade, Haller descobre ter mil almas, que além dos dois pólos pelos quais se sente atraído, uma infinidade de pulsões interiores e exteriores atua sobre o seu ser, engendrando múltiplas personalidades, mal contidas pela frágil unidade de seu ego. Mas Haller admite no delírio final do romance a coordenação das mil almas, mil personalidades em torno de um eixo central que dá unidade à pluralidade de personas
Enquanto outro grande livro de Hesse, Demian, é um romance de formação da personalidade, o Lobo da estepe é um romance que narra a desintegração da personalidade num homem maduro, ou quiçá o fracasso ou a resignação ante a impossibilidade de formação de uma personalidade coesa e sólida na voragem de um tempo de transmutação de valores, de fragmentação e velocidade. Haller vive entre as trevas e a luz, o sensual e o espiritual, o moderno e a tradição, o profano e o sagrado, numa interminável e aguda crise. Não é feliz. A certa altura, no clímax de uma sensual festa de máscaras, imerso na multidão, já desfigurado, sem passado, sem face, sem personalidade, sente seu ego, sua individualidade dissolvida na unio mystica da alegria. Harry Haller experimenta uma espécie de transcendência espiritual às avessas.
O livro parece deixar uma conclusão pessimista quanto à possibilidade de formação da unidade pessoal. Mas Hesse, em nota de 1961 para uma reedição do romance, diz que não descarta no romance a esperança oculta de uma síntese transcendente, que integre o santo e o libertino, o que parece estar prefigurado na demonstração da unidade oculta das mil almas no capítulo final da obra.
Este livro descreve a ambiguidade e os vários modos de existir (como diria Clarice) que encontro em mim (e talvez alguns encontrem em sí mesmos) MAGNÍFICO!
O erudito Harry Haller vive o tempo toda a tensão entre a vida sublime de seus grandes poetas e músicos - Goethe e Mozart, mormente, com os quais inclusive tem encontros imaginários ? a vida da alta cultura, do espírito, dos Imortais, e a vida das profundezas da superficialidade, do sensual, da carne, a que é conduzido por Hermínia, mulher da noite que conhece em um bar e alter ego de um amigo de infância que muito o impressionou. Vive, portanto, atraído por dois pólos magnéticos opostos, um representado pela vida noturna, pelo álcool, pelos cigarros, pelo jazz, pelas meretrizes e pelo despertar ao meio dia; o outro pela vida ascética, diurna, tranqüila, de jardins bem cuidados da família burguesa vizinha que admira logo no primeiro capítulo como alguém que sente nostalgia por um paraíso perdido.
Mas, em verdade, sabe que viver burguesamente é viver na mesma terra mediana em que vive. O burguês vive dividido entre a atração da vida do santo e a vida do libertino, do espírito e da carne, não conseguindo superar a medianidade e entregar-se completamente a um dos dois pólos radicais. O Lobo da Estepe, conforme explicado no "Tratado do Lobo da Estepe", pertence à burguesia, não consegue superá-la, daí seu misto de apreço e desprezo pela vida burguesa. Harry entrega-se à dissipação querendo superar a mediocridade burguesa, quer uma transcendência, ainda que pelos "martírio da carne", mas não tem força bastante para esta libertação, daí a sua atração pela vida burguesa quando sente-se aprofundar demais na vida do libertino.
Porém, para além da dupla personalidade, Haller descobre ter mil almas, que além dos dois pólos pelos quais se sente atraído, uma infinidade de pulsões interiores e exteriores atua sobre o seu ser, engendrando múltiplas personalidades, mal contidas pela frágil unidade de seu ego. Mas Haller admite no delírio final do romance a coordenação das mil almas, mil personalidades em torno de um eixo central que dá unidade à pluralidade de personas
Enquanto outro grande livro de Hesse, Demian, é um romance de formação da personalidade, o Lobo da estepe é um romance que narra a desintegração da personalidade num homem maduro, ou quiçá o fracasso ou a resignação ante a impossibilidade de formação de uma personalidade coesa e sólida na voragem de um tempo de transmutação de valores, de fragmentação e velocidade. Haller vive entre as trevas e a luz, o sensual e o espiritual, o moderno e a tradição, o profano e o sagrado, numa interminável e aguda crise. Não é feliz. A certa altura, no clímax de uma sensual festa de máscaras, imerso na multidão, já desfigurado, sem passado, sem face, sem personalidade, sente seu ego, sua individualidade dissolvida na unio mystica da alegria. Harry Haller experimenta uma espécie de transcendência espiritual às avessas.
O livro parece deixar uma conclusão pessimista quanto à possibilidade de formação da unidade pessoal. Mas Hesse, em nota de 1961 para uma reedição do romance, diz que não descarta no romance a esperança oculta de uma síntese transcendente, que integre o santo e o libertino, o que parece estar prefigurado na demonstração da unidade oculta das mil almas no capítulo final da obra.
Este livro descreve a ambiguidade e os vários modos de existir (como diria Clarice) que encontro em mim (e talvez alguns encontrem em sí mesmos) MAGNÍFICO!
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