ENTREVISTA - CARL HONORÉ |
QUEM É Escritor e jornalista escocês. Estudou história e italiano na Universidade de Edimburgo. Tem 40 anos O QUE FEZ Colaborou com a revista The Economist e com os jornais Observer, Miami Herald e National Post O QUE PUBLICOU Devagar, pela Editora Record, e Under pressure (Sob pressão), que será lançado no Brasil em julho |
O que caracteriza o movimento slow e em que medida ele pode nos ajudar a viver melhor?
Carl Honoré – O princípio do movimento slow diz que devemos desacelerar porque perdemos a noção do todo. Estávamos focados apenas nas partes. Bastava olhar a agenda ou o telefone celular e descobrir para onde seguir. Estávamos olhando apenas para a frente, numa espécie de corrida dentro de um túnel. Esse estilo de vida egoísta nos trouxe estresse e problemas de saúde. As questões mais importantes da vida só aparecem quando desaceleramos.
Por que vivemos com tanta pressa mesmo sabendo que é tão bom aproveitar melhor o tempo?
Honoré – Existe algo de sexy na velocidade. Somos tomados pela adrenalina quando estamos ocupados o tempo todo. O mundo está repleto de experiências e faz parte do instinto humano querer aproveitá-las ao máximo. Mas essa lógica nos empurra para dentro de uma espiral: precisamos fazer mais e mais coisas em menos tempo. Então, quando surge um tempo livre, entramos em pânico e ficamos angustiados. Viver rápido é uma maneira de fugir dos problemas da vida. É como uma droga. Pode causar um prazer imediato, mas ao longo do tempo é prejudicial.
A procura por uma vida mais equilibrada e saudável deve aumentar com a crise econômica?
Honoré – A vontade de desacelerar é antiga, porque vivemos há 150 anos numa aceleração constante. Mas a atual crise econômica mundial oferece uma nova oportunidade para recalibrarmos nossas prioridades. O desaquecimento da economia deve acelerar um processo de discussão que começou com a revolução da internet. Os benefícios dessa velocidade foram inquestionáveis, mas ela não nos trouxe necessariamente felicidade e saúde, nem tornou o mundo melhor. Chegamos a um ponto de exaustão.
As crianças também estão expostas a essa cultura de estresse e pressão?
Honoré – Estamos criando nossos filhos com um enfoque errado. Perdemos muito tempo tentando transformá-los em crianças perfeitas. Isso traz angústia e medo a elas. Meu filho, por exemplo, gosta de desenhar. Mas ele não quer ser o próximo Pablo Picasso. É muita cobrança quando, muitas vezes, nem sequer passamos o tempo suficiente ao lado das crianças. Também gastamos muito dinheiro e tempo planejando atividades complexas para nossos filhos. Na realidade, seria melhor para eles – e para nós mesmos – simplesmente passar o tempo juntos.
Por Andreas Vera
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